quinta-feira, 29 de outubro de 2009

OMG Entrevista: “Nem os pastores põem mais fé na EBD”

O teólogo e médico Angelo Gagliardi Júnior, 53 anos, escreveu o livro Você acredita em Escola Dominical? no fim dos anos 1990, no qual debatia a crise desse modelo de ensino. Em entrevista à CRISTIANISMO HOJE, ele mostra que o tema continua atual.

CRISTIANISMO HOJE: Que tipo de experiências o motivaram a escrever o livro “Você acredita em Escola Dominical?”

Amor desde a infância pelo estudo da Bíblia e inconformismo pela forma com que as nossas Escolas Dominicais vinham desempenhando o seu ministério em nossas Igrejas desde sempre , o tipo de “formação” , o tipo de “crente” que ela vinha “preparando” , frágeis , imaturos,inexperientes, desmotivados.

A visível prática em nossas Escolas Dominicais da Anti-Reforma Protestante , afastando a Bíblia das mãos do povo , desestimulando o seu estudo , meditação e prática. A ênfase prioritária às metodologias eclesiásticas já caducas, o aferrar-se às revistas ralas da denominação para “manter” o controle doutrinário.

O abandono completo de um sério investimento em material para pesquisa , formação , e instrução do corpo docente , bem como de uma escolha responsável e criteriosa do mesmo .



Um dos grandes questionamentos da nossa matéria também é o formato convencional da EBD que muitas igrejas se recusam em adotar, você acha que isso é motivo para que não tenham esse ministério?

Nunca enfatizei o formato, nem o apego a uma exclusiva metodologia , ou sequer a um único material didático acessório ou complementar. A Escola está posta como ministério na Igreja para promover o conhecimento de Deus, revelado em Cristo Jesus , a instrução , a formação , a maturação do povo de Deus através do ensino , da meditação , do compartilhar da Palavra de Deus , em pequenos grupos homogêneos ( separados por maturidade cristã ou interesses comuns), com a possibilidade da troca de informações e experiências , num ensino ordenado, progressivo , didático e conduzido pelo E.Santo , através de vidas piedosas e comprometidas com o ministério do ensino . Gente sendo salva e entendendo que seus propósitos de vida com Deus incluem adorá-Lo , reunirem-se em família cristã , desenvolverem algum (ou alguns) ministério(s) na comunidade , crescerem e amadurecerem sadiamente , e evangelizarem a outros .



Quais as principais mudanças da EBD de 30 anos atrás para a de hoje?

Vejo apenas esforços aqui e ali no sentido de tentar vencer as enormes dificuldades estruturais e de logística que as EBD enfrentam, mas sem muito resultados positivos . Basicamente os problemas são os mesmos com o agravante de que, 30 anos depois, o Evangelho é apresentado hoje numa visão mais utilitária , superficial , hedonista , sem ênfase ao necessário conhecimento da Palavra , ao arrependimento , à mudança de vida e ao compromisso com o Senhor .



Aponte os principais pontos que evoluíram e os que regrediram na EBD?

A Escola Dominical é uma escola , e como tal tem que ser pensada , e trabalhada . Até as mudanças , quando realizadas, não podem ser mumificadas , cristalizadas , dogmatizadas. Creio que evoluiu o fato de hoje haver bem mais igrejas , comunidades , denominações , questionando-se , e pensando em buscar soluções e alternativas . Isto era impensável há 30 anos atrás , matava-se o povo de fome com absoluta frieza e dureza , em nome da tradição denominacional. O que regrediu, foi o cada vez maior desapego ao ensino e manuseio da Bíblia , ela mesma , como material central de estudo da Escola.

Até aquelas igrejas que fizeram mudanças na EBD , equivocaram-se ao substituírem o estudo das Escrituras por livros , apostilas , testemunhos , etc… É contudo a Bíblia a Palavra de Deus , o alimento , a espada , o mel , o fel , a lâmpada … Ela é insubstituível como instrumento de Revelação de Deus .



Quais são os maiores benefícios que esse ministério proporciona à Igreja?

A Educação Religiosa faz-se prioritariamente ( ainda que não exclusivamente) na Igreja por meio da EBD. Púlpito , células , sociedades internas , reuniões de oração , retiros , congressos , seminários , são parte deste processo educacional , mas nada disto substitui a EBD . Ela evangeliza , instrui , gera crescimento e amadurecimento , estimula, desafia , corrige , exorta , integra etc.. A EBD não é uma das sociedades internas da Igreja , e por isto não pode competir com estas , por tempo,pessoal,recursos etc… A EBD é a Igreja sendo instruída , trabalhada , amadurecida , preparada , para servir às sociedades internas . Ela só pode ser tratada como prioridade na Igreja. Uma EBD forte , eficiente , Bíblica , inevitavelmente proporciona uma comunidade sadia, viva , quente , madura , evangelística , missionária , integrada. Muitos pensam que boas e ativas sociedades internas ou até mesmo um fervilhante , útil e necessário projeto de células na Igreja podem tornar irrelevante ou dispensável o ministério da EBD . Isto é um sofisma , um “canto de sereia” podendo conduzir igrejas ao naufrágio da raleza , desnutrição e do ativismo. Há sim características semelhantes entre estes ministérios como trabalhar em pequenos grupos , a oportunidade de testemunhos e participações individuais , bem como acompanhamento e “pastoreio” de indivíduos,aliviando a centralização desta missão e responsabilidade de estar exclusivamente sobre o pastor da comunidade. Por que não investimos também tempo na escolha e preparação de líderes para professores da EBD ? Por que não podemos deixar os alunos da EBD sob o pastoreio dos seus professores e secretários das classes da EBD ( assemelhando-se ao que Filipe e Barnabé faziam no relato de Atos dos Apóstolos) ? Por que não possuir uma estrutura ou um projeto de EBD com classes semanais substituindo ou complementando a EBD dos domingos ? São alternativas que podem complementar os ministérios desenvolvidos pelas sociedades internas e pelas células. Só a EBD pode trabalhar com grupos mais homogêneos , e ela mesmo homogeneizar ( com os mesmos conhecimentos básicos ) toda a comunidade .



Quando o senhor fala no livro a respeito de credibilidade, questiona a respeito da nomenclatura do ministério. Muitas igrejas têm usado essa estratégia, mas são criticadas, pois além da mudança do nome, também fazem mudanças na estrutura, o que o senhor pensa sobre isso?

Não se trata de mudar apenas porque é preciso mudar . Não basta simplesmente mudar o nome, ou o material didático , ou a grade de horários e temática ! Talvez frequentemente vá ter que passar por aí também , mas a questão é muitissimo mais profunda , é uma questão de visão , de importância , de prioridades , de filosofia . Sem que estas coisas mudem primeiro , nada dará resultado. São vinhos novos (às vezes) em odres velhos ! São conceitos e princípios intimamente , celularmente entranhados ! Ninguém mais põe fé na EBD , nem os pastores ! O tempo decorrido , as experiências inúmeras fracassadas , as estruturas paleontológicas mumificadas , as tentativas transformadoras que também não foram aperfeiçoadas ou revisadas , os parcos e ultrapassados recursos didáticos e pedagógicos disponibilizados , os modismos , as enormes necessidades administrativas X tempo escasso dos pastores , a Biblicamente profetizada frieza espiritual , a escassez de líderes , o ativismo na Igreja , os inúmeros compromissos de trabalho secular que envolvem hoje as famílias, os variados teleevangelistas , lutam em favor do esvaziamento da EBD. Há projetos novos , alternativos , bem formatados , prontos para consumo , contando com bons argumentos Bíblicos,que,como já disse anteriormente,parecem substituir a contento ( até com vantagens na visão de alguns) a EBD .



Como é possível resgatar no coração dos cristãos a importância/utilidade da EBD?

Só com a participação verdadeira e comprometida dos líderes e pastores das comunidades. O púlpito exalta o pregador . As sociedades internas e as células são, administrativamente falando, mais fáceis de serem operadas , municiadas , gerenciadas e aliviam grande parte do descomunal peso transferido equivocadamente para as costas do pastor . Contam ainda,como já disse anteriormente , com fortes argumentos Bíblicos a seu favor e estrutura e material já prontos . Mas quem proverá o ensino da Palavra de forma cuidadosa , metódica , ordenada , progressiva (do leite progredindo ao sólido) , clara e inteligível , administrada adequadamente ( a cada um segundo a sua necessidade e/ ou interesse) , para grupos homogêneos ( não por endereço ou por apreço a determinado líder) , planejada e revisada segundo as necessidades contemporâneas de cada comunidade ? SÓ UMA BOA ESCOLA DOMINICAL! Todos os avivamentos apresentados em especial no V.T. , possuem, como instrumento de Deus ,a Sua Palavra . Esta ,anunciada, pregada , ensinada , desde que ouvida e entendida , acompanhada sempre pela presença e pelo sopro do E. Santo . É só investir um tempinho de meditação nos textos muito conhecidos de : II Rs 22 e 23 ; Ne 8 a 10 ; Ez 37: 1 – 15 . Quem quer experimentar Avivamento? Só através do ouvir da Palavra anunciada com a unção do E. Santo.

O senhor acredita que um dos maiores problemas da EBD atual é a falta de competência dos ministros? A geração Y (da Internet) não se contenta com formatos tradicionais e pessoas despreparadas?

A Wikipédia nos socorre : A Geração Y é um conceito em Sociologia que se refere, segundo alguns autores, aos nascidos após 1980 e, segundo outros, de meados da década de 1970 em diante.



Esta geração desenvolveu-se numa época de grandes avanços tecnológicos e prosperidade econômica. Os seus pais, não querendo repetir o abandono das gerações anteriores, encheram-nos de presentes, atenções e atividades, fomentando a sua auto-estima. Cresceram vivendo em ação, estimulados por atividades, fazendo tarefas múltiplas. Lidando com Power point e Netbooks . Acostumados a sempre conseguirem o que querem. Eles tem se tornado o público-alvo do consumo de novos serviços e na difusão de novas tecnologias,público exigente e ávido por inovações.

Claro está que uma Escola pedagogicamente atrasada , deficiente em instalações e conforto , recursos didáticos paupérrimos( lousa,giz ou Pilot ) ,ministrando sobre um livro que já foi escrito há mais de 2000 anos, só pode obter sucesso se seus ministradores forem gente de Deus , comprometidos , piedosos , ungidos e bem preparados , falando aos corações e mentes com clareza , propriedade,adequação e utilidade , sob a graça e o poder de Deus. Quando há graça,unção e poder ,até mesmo a falta de recursos didáticos torna-se imperceptível. Assim creio que falta de unção agrava muitíssimo a falta de competência pedagógica .

Onde estão estes ministradores ungidos e preparados ? Aí estão as grandes chances de encontramos uma EBD relevante . Agora organizemo-la e vamos supri-la com o que de mais moderno e atual podemos contar em termos de recursos didáticos , em ambiente agradável e tão confortável quanto a comunidade possa prover e a temática ministrada mereça .



Por que há falta de dedicação por parte da igreja e de seus líderes no investimento da EBD?

Por todas as enormes dificuldades envolvidas em encontrar e formar um corpo docente competente e confiável , responsável e comprometido , disponível e envolvido . Pelas dificuldades em estruturar e gerir uma EBD relevante ( logística,currículo , material didático , corpo docente e discente , etc ). Pelas muitas frentes de investimento dentro da Igreja a consumir os freqüentemente poucos recursos, limitando o aparelhamento dos espaços e a compra de material didático . Pela tradicional história de absenteísmo e ineficiência da EBD .Pelo tipo de evangelho pregado em muitas igrejas evangélicas , priorizando o púlpito e os cultos públicos , em detrimento do estudo metódico, em pequenos grupos,das Escrituras . Pela moderna alternativa , bem apresentada e preparada , do trabalho de pequenos grupos semanais , entendida por uma minoria (ao meu ver equivocadamente) como substituta da EBD . Mas sobre tudo isto ,uma enorme necessidade de Avivamento espiritual no meio do povo de Deus.

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